segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A DEVOÇÃO AOS ANJOS!

A devoção aos Anjos, antídoto contra os grandes poderes

(Roberto de Mattei, Editoriale)

[in Radici Cristiane, nº 71, Roma, janeiro de 2012. Tradução livre.]

Confrontados com a ditadura do relativismo e do poder avassalador dos “grandes poderes”, uma sensação de desânimo e impotência assalta, por vezes, os católicos e todas as pessoas de boa vontade. No entanto, a história não é irreversível e aqueles que lutam em defesa da ordem natural e cristã podem obter vitórias inesperadas, confiando na ajuda da Divina Providência.
A principal característica dos chamados “grandes poderes” não é somente o poder, mas também a falta de transparência com a qual eles agem na sociedade. São chamados de Grupo Bilderberg e de Comissão Trilateral, e esses potentados promovem discreta, mas eficazmente, o advento dos governos de “excepção” confiados a uma tecnocrata casta dirigente.
A tecnocracia é o poder exercido por um pequeno grupo de homens, de formação científica, que se apresentam como “especialistas” e reivindicam para si as decisões finais relativas à organização da sociedade. Um dos clássicos slogans tecnocratas é o da superação das ideologias em nome da eficiência e do pragmatismo.
Na verdade, a tecnocracia é em si uma ideologia, assente no primado da ciência e da economia. O estudioso espanhol Juan Vallet de Goytisolo indica como dogmas da tecnocracia o relativismo, que permite ao tecnocrata de usar, sem consequências morais, os meios mais eficazes para atingir o seu propósito, o evolucionismo, que oferece ao relativismo um suporte pseudo-místico e o naturalismo que permite aos dois primeiros princípios de ficarem sob o plano da pura “praxe”, para evitar que possam ser questionados em termos de princípios (Ideologia, praxis y mito de la tecnocrazia, Madrid 1971).
Os regimes tecnocráticos são precedidos por campanhas para desacreditar a esfera política, considerada como reino da incompetência e da corrupção. O objectivo é o de substituir a democracia por um governo ditatorial ou “forte” sob o pretexto da emergência económica.
A tecnocracia, no entanto, não é apenas um forte poder executivo e uma rígida organização burocrática: ela se apresenta principalmente como uma forma de conhecimento “científico”, superior ao conhecimento comum, que é acessado através de escolas especiais, universidades, associações visíveis ou ocultas que “iluminam” os percursos. Quando este conhecimento iniciático passa do campo económico ao religioso e moral, assume o carácter de uma “gnose”, no sentido próprio da palavra.
O escritor francês Lous Damènie destaca as relações da tecnocracia com as correntes maçónicas e esotéricas que buscam subverter a ordem natural das coisas e aspiram a uma Igreja Universal do Homem feita através da hegemonia dos equipamentos técnicos e científicos (La tecnocrazia, tr. it., Milão 1985).
A “Mãe” dos grandes poderes fortes cientistas e tecnocratas, de acordo com o Magistério da Igreja, é a Maçonaria. Entre as cerca de 600 condenações de 1738 até hoje, lembramos aquelas do Papa Leão XIII nas encíclicas Humanum genus de 20 de abril de 1884 e Inimica vis de 08 de dezembro de 1892.
Hoje a Maçonaria é uma galáxia ramificada entre lojas e “obediências” de vários tipos, mas todas unidas pela recusa da Verdade salvífica da Igreja. O sonho da Maçonaria foi sempre o de uma república universal em que a Verdade Católica, sendo proibida, não conheça sequer a possibilidade de exílio, mas apenas a escolha entre o martírio e a adoração do Bezerro de Ouro.
A igualdade das religiões, de acordo com Leão XIII, é um critério “adoptado com o fim de destruir todas as religiões, especialmente o catolicismo que sendo, entre todas, a única verdadeira, não pode, salvo com grosseira injustiça, ser colocada em pé de igualdade com as outras” (Humanum genus).
A Maçonaria e os grandes poderes, pelos recursos políticos, económicos e financeiros que usufruem, podem parecer invencíveis. Porém, também os católicos têm os seus “grandes poderes”, a começar pela própria Igreja, que é forte não pela influência política e económica que exerce, mas pela capacidade que tem, ela sozinha, de levar as almas para a sua pátria celestial.
Leão XIII na encíclica Humanum genus recorda que a humanidade, depois da rebelião de Lúcifer, “se divide como que em dois campos diferentes e inimigos entre si, um dos quais combate incansavelmente pelo triunfo da verdade e da bondade, o outro combate pelo triunfo do mal e do erro”. Tudo teve origem naqueles actos de lealdade e de rebelião no princípio dos tempos.
Desde então, Deus, causa primeira de tudo o que existe, serve-se dos Anjos como causas segundas para reger o universo por Ele criado. São Tomás de Aquino diz que “todas as coisas físicas são governadas pelos Anjos” (Suma Teológica, I, q. 110, a. 1). Deus, explica o Doutor Angélico, governa os seres inferiores através dos superiores, porque quer comunicar generosamente até mesmo às criaturas a dignidade da causalidade. Isto significa que os Anjos governam tudo o que se move no universo, do imenso e majestoso mundo dos astros até aos seres humanos, criados à imagem e semelhança de Deus. Através dos Anjos, em todos os momentos e em todas as circunstâncias da nossa existência, Deus exerce sobre nós uma açcão profunda e invisível, para nos conduzir ao nosso fim sobrenatural.
O universo é governado por Anjos, presentes em cada momento e cada lugar, como instrumentos da Divina Providência, mensageiros da graça, protagonistas e testemunhas dos planos divinos. É por isso que nós rezamos ao Anjo da guarda para “reger-nos” e “governar-nos”.
Sob este aspecto, a devoção aos Anjos é mais importante que a devoção aos Santos. Os Santos são modelos de virtude que devemos imitar e a quem devemos rezar para intercederem por nós. No entanto, eles não têm, excepto em casos extraordinários, aquele poder sobre as criaturas que os Anjos, por decreto divino, têm de forma ordinária.
Nada pode resistir à força das “Potestades” e dos “Principados” que governam o universo. Por essa razão, a Virgem Maria, associada a Jesus Cristo, Senhor do Céu e da Terra, para reinar com Ele sobre todas as coisas é venerada como “Rainha dos Anjos” e comanda as fileiras dos exércitos celestes.
Os Anjos, desde o primeiro momento da criação e para toda a eternidade, se colocaram a favor ou contra Deus. Esta escolha nós devemos fazê-la no tempo histórico em que vivemos e o culto dos Anjos nos ajuda a servir a Deus e a combater eficazmente os seus adversários. Por isso, a devoção aos Anjos, pouco praticada pelos cristãos, é o melhor antídoto contra os grandes poderes, naturais e sobrenaturais, que nos ameaçam.

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