A
MISSA NÃO É PARA DEUS!
·
INTRODUÇÃO
Por achar pertinente
vou deixar aqui registado um caso que me levou a tomar maior consciência do
problema da crise da Igreja.
Qual não foi meu
espanto quando recebo dois emails, um do padre da Igreja onde dou catequese que
dispensava estas palhaçadas e outro de uma catequista de missa diária.
A mesma considerou a
mensagem como lixo, aconselhando-me a rezar pelos sacerdotes e pela eucaristia.
O primeiro conselho é um
tanto ou quanto impróprio, já que a mesma conhece-me, uma vez que fomos
catequistas na mesma igreja, e frequentamos o mesmo templo aos Domingos na
Santa Missa. O segundo conselho é que deixou-me confuso, perplexo e perturbado.
Face aos email’s de
protesto, quanto ao padre apenas pedi desculpa pelo incómodo, pois nada mais
poderia fazer. O testemunho de um padre, como ele, era palhaçada. Esquisito.
Quanto à catequista e
conhecida, respondi-lhe que não se reza pela eucaristia, mas esta é que reza
por nós já que a mesma é para Deus em favor dos homens, a não ser que o
conselho seja no sentido de nós desagravarmos as irreverências e os sacrilégios
contra a mesma. Em resposta, a referida catequista respondeu em maiúsculas, o
seguinte:
A MISSA NÃO É PARA DEUS!
Vamos à
missa para pedir, louvar, agradecer e adorar a Deus.
Assim, vamos
à missa para ouvir a Palavra de Deus e saber o que Ele fala e propõe.
Esta
resposta deixou-me abalado, já que conhecendo a pessoa, fiquei a pensar porque
tem esta ideia da Santa Missa. Ora a mesma é uma pessoa de missa diária, muito
consciente da sua condição de católica, dedicada às coisas de Deus, sempre
activa, diligente no apostolado, zelosa, pessoa de oração, etc.
Porque uma pessoa com
esta qualidade, e profundo apostolado, tem esta convicção?
Mais grave ainda foi
quando eu disse que ela estava enganada, que tinha uma concepção protestante da
Santa Missa, e que a esta era para Deus em favor dos homens. Ela não aceitou.
·
PESQUISA
Face a isto, surgiu-me
uma ideia. Será que só ela é que pensa assim, ou há mais pessoas que têm o
mesmo pensamento? Pensei fazer uma pequena pesquisa, precisamente na igreja,
onde tanto eu como ela, vamos à Santa Missa. Perguntei a várias pessoas,
algumas delas catequistas, sobre o mesmo assunto. Isto é, a Santa Missa é para quem?
Fiquei espantado com as
respostas. Uns diziam que era para o povo, outros para louvar, outros para
ouvir a palavra de Deus, e houve um que fundamentou que a missa era para o
povo, tanto que se não estiver pelo menos 2 ou 3 pessoas a Santa Missa é
inválida. Trata-se de um amigo pessoal que foi seminarista, hoje homem casado,
e um homem de grande fé. Também cheguei a perguntar a um rapaz de uma piedade
profunda, que vai agora para seminarista, e ao colocar-lhe a pergunta “a Santa Missa é para quem?”, o mesmo
ficou atrapalhado e disse: “É uma boa
questão que agora não sei responder”. Depois, deu um palpite: “Para as pessoas?”.
De todas as pessoas,
houve apenas uma que
respondeu: “É para Deus”.
Todas elas vão ao mesmo
local da Santa Missa, por isso fiquei intrigado com a resposta desta última
pessoa. Devo aqui frisar que a Santa Missa de Paulo VI é celebrada com muita
reverência e sacralidade. Mais, não admitem ministros extraordinários da
comunhão e esta é, numa atitude pedagógica, incentivada a que seja de joelhos e
na boca. Então porque apenas uma pessoa respondeu a Santa Missa é para Deus?
Porquê? Qual a razão? Face à resposta da pessoa fiz conversa com a mesma, para
perceber a razão porque ela tinha a ideia correcta da Santa Missa. Foi então
quando disse que ia à Santa Missa, uns dias por semana, mas pela forma do rito
extraordinário. Mais, a mesma afirmou docemente que, a seu tempo, a Missa do
rito romano seria totalmente restaurado na Igreja. Fiquei a olhar… pasmadamente
para a pessoa.
·
SUMMORUM
PONTIFICIUM
Desde que o Papa Bento
XVI publicou o Motu Proprio Summorum Pontificium que venho a estudar com muito
interesse a Liturgia, e tomei conhecimento de muitas coisas que até então eram,
para mim, completamente desconhecidas. Devo dizer que antes da publicação do
Motu Proprio eu também tinha a mesma ideia que as outras. O estudo da Liturgia
fez-me ver e compreender muitas coisas.
Por isso, hoje consigo
perceber porque as pessoas têm esta ideia da Santa Missa: É para o povo. Mas, provavelmente o mais trágico é que esta ideia
pode ser a ponta de um iceberg de uma multidão de católicos, que talvez
pensarão da mesma maneira. E se assim for, quantos outros erros teológicos não estarão
associados a esta ideia? Consequentemente quantos erros são acreditados como
verdades, por causa desta ideia errada da Santa Missa.
Quando o médico está
diante de um doente, ele começa por fazer um historial da doença, para
conseguir perceber a(s) causa(s) do problema, e a partir dai fazer um prognóstico
para curar a mesma.
A Summorum Pontificium
teve um efeito enorme na minha pessoa. Foi por causa deste documento pontifício
que comecei a estudar a Liturgia, e usei o mesmo método do médico. A Igreja
está doente e, por arrasto, o mundo também, já que a primeira é a alma do
segundo.
· HISTORIAL DA DOENÇA
“Sic
omnis arbor bona fructus bonos facit; mala autem arbor malus fructus facit”
(Mat. VII, 17)
Comecei a fazer o
historial da doença (crise), que hoje gravemente atinge a Igreja. Uma crise de
autodestruição, como disse o Papa Paulo VI. De etapa em etapa, o historial foi
sendo construído e parou no Concilio Vaticano II. Isto é, a minha pesquisa,
como leigo, levou ao ponto de partida da doença. Passei então a estudar a
doença em si, e verifiquei com espanto que a mesma foi uma receita que foi
aplicada com o objectivo de fortalecer e tornar robusta a pessoa (Igreja).
Porém, a receita, em
vez de surtir o efeito desejado, tornou-se um grave problema de tal maneira que
criou uma doença, onde não havia doença, criou um problema, onde não havia
problema, criou perturbação, onde não havia perturbação, e, mais grave, criou a
convicção de que a receita é A
única, e toda e qualquer outra é um atentado a esta receita, que se tornou numa
espécie de vaca sagrada.
Isto faz-me lembrar o programa
dos Alcoólicos anónimos que tem dez passos, dependo o sucesso dos nove passos
seguintes, do primeiro: Reconhecer que é alcoólico.
Aqui temos a mesma
situação. Há toda uma fuga, justificações, desculpas e argumentos para fugir do
reconhecimento da causa do problema. Porquê? Porque elevou-se a receita à
condição de vaca sagrada, e reconhecer que a mesma é afinal o problema, quem o
fizer é logo considerado como vírus, bactéria, fungo, etc.
Porque há esta reacção
brusca e desesperada? Porque o médico orgulhoso tem dificuldade de reconhecer
que a receita tinha erros. Mas reconhecer o erro faz do médico incompetente?
Evidentemente que não.
·
CONCILIO
VATICANO II
Como disse atrás, o
diagnóstico parou no Vaticano II. Mas este é verdadeiramente o grande mal da
doença? A verdadeira causa? Direi que o Vaticano II foi uma receita de um
remédio que pretendia um único e majestoso efeito, nova primavera e novo
Pentecostes, e afinal teve efeitos colaterais terríveis Uma espécie de Victoza,
um medicamento criado especificamente para diabetes, mas que depois verificou-se
que as pessoas emagreciam muitos quilos em pouco tempo.
O que funcionou mal, na
receita do medicamento? Foi a mesma ter aspectos não claros, ambíguos, conter
nela múltiplos sentidos, alguma imprecisão, permitir várias interpretações da
receita, etc. À volta da receita há toda uma discussão se a mesma é vinculativa
ou não. Uns argumentam que na Igreja não há
infabilidade pastoral, somente infabilidade dogmática/doutrinária. Ora se o
concílio foi pastoral, logo, tecnicamente falando, não se pode falar que tenha
sido infalível. Outros afirmam que qualquer Concilio é dogmático e infalível,
pois é a expressão máxima do magistério da Igreja. Enfim, uma discussão sem
fim, porque a isso também os documentos conciliares o possibilita.
“Nos documentos do
Concílio Vaticano II, pode-se encontrar uma sugestiva síntese da relação entre
o cristianismo e o iluminismo”. (João Paulo II, Memória e Identidade, Ed
Objectiva, Rio de Janeiro, 2.005, p. 126). Talvez esteja aqui a razão destas
ambiguidades. Na verdade misturar água suja com água limpa, só pode prejudicar
esta última. O iluminismo, quer em sua forma racionalista, deista e laicista,
defensora da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, quer em sua forma
espiritualista gnóstica, defensora de que há no homem uma centelha ou semente
divina, é essencialmente errado e absolutamente inaceitável. Logo não é
possível uma síntese entre o Catolicismo e o Iluminismo. (Cfr. Sobre os dois
tipos de iluminismo: Antoine Faivre, L´Ésotérisme au XVIII éme Siècle en
France et en Allemagne, Seghers, Paris, 1973).
Como perceber, como
isso foi possível? Bem, basta olhar para os teólogos, alguns deles condenados e
demitidos pelo Papa Pio XII, que tiveram grande peso na elaboração dos
documentos conciliares: Hans Kung, Edward Schillebeeckx, Yves Conga, Karl
Rahner, Johann Baptist Metz, Henri de Lubac, Henri Rondet, Henri Bouillard,
etc. Também as ideias de Pierre Teilhard de Chardin marcaram e influenciaram
profundamente o Concilio Vaticano II. Não há aqui, também, tábua rasa do
magistério da Igreja, antes do Vaticano II? Não é evidente uma contradição
perturbadora?
Com este Concilio
pretendeu-se fazer uma re-leitura do Evangelho à luz da cultura moderna, da
cultura contemporânea. Como é possível fazer uma releitura do Evangelho com uma
cultura pérfida, decaída e emancipada de Deus? Isto é, o pensamento do mundo,
desta cultura ateia, serviu como hermenêutica para uma re-leitura da Palavra de
Deus. Completamente insano.
Isso deu origem a
efeitos colaterais desastrosos com o resultado idêntico do remédio Victoza:
emagrecimento da Fé, do número de leigos, de padres, de seminaristas, do
sentido do sagrado, do sobrenatural, do divino, etc.
Ora se estes são os
frutos, pois sem sombra de dúvida que a maior crise da história da Igreja
aconteceu após o Vaticano II. Isso é um facto peremptório. Face a isso
escutemos o que diz o Senhor: “Omnis arbor quae non facit fructum bonum excidetur,
et in ignem mittetur” (Mt 7, 19).
·
EFEITO
COLATERAL: Reforma Litúrgica
Dos efeitos colaterais
qual foi ou é o mais mortífero? Com o estudo que tenho feito cheguei à
conclusão que, sem sombra de dúvida, a reforma litúrgica com o “Novus Ordo Missae” é o problema. Teve o efeito do “ébola”
que originou imediatamente uma hemorragia letal em todo o corpo da Igreja, bem
como a explosão de seitas cristãs por todos os cantos. Tão letal que Bento XVI,
quando Cardeal, afirmou: «Os resultados que se seguiram ao Concílio parecem
cruelmente opostos às expectativas de todos, inclusive às de João XXIII e, a
seguir, de Paulo VI. Os cristãos são novamente minoria, mais do que jamais o
foram desde o final da Antiguidade..» “ (Diálogos sobre a Fé”, Ed.Verbo,
1ª.Edição, 1985). Isto é, o resultado em vez da primavera ou de um
novo Pentecostes desejado e querido, foi um terrível inverno e um Pentecostes do
espirito do mundo, a tal invasão de que desabafava Paulo VI.
Também descobri que
existe uma atitude suicida perante o problema, que, no início, não percebia,
mas agora já entendo, e que falarei mais à frente. A atitude foi ter à mão a
vacina para matar e estancar de vez esta hemorragia e, misteriosamente, a mesma
não foi usada como até foi proibida. Estamos a falar do remédio que manteve a
Igreja saudável durante quase dois milénios: O Rito Romano.
É inexplicável porque
se insistiu, e se insiste, num remédio que há 50 anos provoca uma hemorragia na
Igreja. O que estará por detrás desta atitude suicida? Será premeditada? Será
cegueira espiritual?
·
A
VACINA
João Paulo II tentou
alertar os médicos (bispos) e propôs a tal vacina com o Motu Próprio “Ecclesia
Dei”, mas eles simplesmente o ignoraram. Por desobediência? Por cegueira
espiritual? Por medo de tocar na vaca sagrada? Por rebeldia? Por orgulho?
A Summorum Pontificium
é uma tentativa de alertar o corpo dos médicos (Cardeais, bispos e padres) para
olharem para aquela receita que manteve a Igreja sã.
Na minha opinião o que
leva o corpo dos médicos a não reconhecer o remédio deve-se às trevas, de que
nos alertou a Mãe de Deus em Fátima ao dizer que haveria uma profunda crise de
fé. Ter o remédio à frente dos olhos e não o conseguir reconhecer é um
mistério, que talvez se possa explicar como um castigo. Por causa disso o corpo
da Igreja está doente, mas não o reconhece.
·
ESTUDO
DA LITURGIA
O estudo da liturgia, o
estudo da história dos bastidores do Vaticano II e o estudo dos bastidores da
reforma litúrgica levou-me, por fim, a compreender e fazer-se luz porque as
pessoas afirmam que a Santa Missa é para o povo.
Se todo o acto
litúrgico tem por detrás dele uma verdade teológica, uma mensagem ou uma ideia
teológica, então o acto do Novus Ordo de Paulo VI, intencionalmente ou não,
forma as pessoas com a ideia de que a Santa é para elas e não para Deus. Como me
disse um bom e zeloso cristão, que chegou a afirmar que a Santa Missa era
inválida se não tivesse pelo menos 2 ou 3 pessoas. Isto é, são as pessoas, o
povo, que autenticam e validam a Missa. Esta noção será exclusivamente dos
leigos? Não haverá bispos e padres com a mesma ideia? Só assim se explica
determinadas Missas que, na verdade, são espectáculos e festas.
·
FACULDADE
DE TEOLOGIA
Eu posso testemunhar o
quanto isso é verdade, quando andei na faculdade de teologia de Lisboa. Havia
de tudo, menos de ortodoxia. Um professor, conhecido como o Lutero português, ensinava
que o pecado original não existiu. Continua a ensinar. Outra professora,
Antropologia Teológica, ensinava o poligenismo e o que o inferno não era
eterno. Tive outro professor que negava a presença real de Jesus na eucaristia,
bem como a ressurreição de Jesus. O professor de História da Igreja passou todo
o semestre a elogiar Lutero, etc. etc. Mas qual era a forma de ensino? Era
assim às claras. Não! Era com a mesma astúcia daquele que acima afirmou que se
não interessa, faço silêncio. Quantos colegas seminaristas no fim das aulas
desabafavam: Se já vim com pouca fé, saio daqui sem fé nenhuma. Tive um colega
que era protestante e fiquei admirado de o ver na faculdade de teologia da
Universidade Católica. Será que o que se ensinava ali era tão semelhante à
teologia protestante que já não havia diferença? Era o meu pensamento. No
4º.ano encontro-o nas escadas da Biblioteca da universidade e pergunto porque
deixou de ir as aulas, o mesmo respondeu: “Se continuasse, perdia a fé”.
Lembro-me de ter desabafado com um santo sacerdote, na confissão, sobre o que
se passava na faculdade de teologia e ele respondeu-me que pediu duas vezes
audiência ao Sr. Cardeal, na altura António, para manifestar precisamente o que
se passava e o mesmo respondeu que nada podia fazer. Quantos padres foram
formados nesta faculdade com esta teologia? Quantos?
O Papa Bento XVI em relação à pedofilia afirmou: “Só examinando com
atenção os numerosos elementos que deram origem à crise actual é possível
empreender uma diagnose clara das suas causas e encontrar remédios eficazes.
Certamente, entre os factores que para ela contribuíram podemos enumerar: procedimentos
inadequados para determinar a idoneidade dos candidatos ao sacerdócio e à vida
religiosa; insuficiente formação humana, moral, intelectual e espiritual nos
seminários e nos noviciados; uma tendência na sociedade a favorecer o clero
e outras figuras com autoridade e uma preocupação inoportuna pelo bom nome da
Igreja e para evitar os escândalos, que levaram como resultado à malograda
aplicação das penas canónicas em vigor e à falta da tutela da dignidade de cada
pessoa. É preciso agir com urgência para enfrentar estes factores, que tiveram consequências
tão trágicas para as vidas das vítimas e das suas famílias e obscureceram a luz
do Evangelho a tal ponto ao qual nem sequer séculos de perseguição não tinham
chegado. (Bento
XVI, Carta Pastoral Aos Católicos
na Irlanda, nº.4 http://www.radiovaticana.org/bra/Articolo.asp?c=365901).
Com faculdades com
professores a ensinarem doutrina completamente fora do Magistério da Igreja, e
com o silêncio ou encolher de ombros dos bispos perante tal facto, é evidente
que tais faculdades geraram e geram sacerdotes inquinados. E isto tornou-se um
ciclo vicioso, pois os padres de ontem destas faculdades são os bispos de hoje
que favorecerão certamente a mesma mentalidade e pensamento.
·
VERSUS
DEI/VERSUS POPULUM
A forma litúrgica
Versus Dei transmite, de facto, a ideia teológica de que a Santa Missa é para
Deus. Isto é, o acto litúrgico Versus Dei do sacerdote transmite precisamente a
mensagem para quem a Santa Missa está a ser celebrada ou rezada. Por isso,
aquela senhora que frequenta a missa do rito romano tem a fé correcta, e os outros
não. As respostas destes, estão de acordo com a concepção protestante da missa.
A forma Versus Populum tem o efeito contrário da outra. Isto é, o acto
litúrgico do sacerdote virado para o povo passa a ideia teológica de que o fim
da Santa Missa é o povo.
Foi com o estudo da
Liturgia que descobri, estupefactamente, que seis pastores protestantes fizeram
parte da comissão para a reforma da liturgia, não como membros, mas como
consultores ou conselheiros. Incrível. Completamente inacreditável. Que diriam os
Santos Padres da Igreja e os Santos.
Tal facto levou-me a várias
questões. Pode o erro (protestantismo) ajudar e aconselhar a verdade
(Catolicismo)? Pode a heterodoxia ajudar e aconselhar a ortodoxia? Pode o
errado ajudar e aconselhar o certo? Pode a heresia ajudar e aconselhar a
Verdade?!
Sobre este mesmo
assunto veio-me à ideia a salvação do homem. Acaso poderemos conceber Deus
pedir conselho a Satanás, para fazer o plano da Salvação do Homem?
Ora a Igreja é o
caminho, deixado por Jesus, para salvação dos homens e a Santa Missa como o
Centro e o Motor desse caminho. Então como pedir ao erro, a heterodoxia e a
heresia para tornar mais eficiente o Motor? É um acto completamente suicida e
de falta de bom senso.
É evidente que o
resultado está à vista de todos e, o mais grave, apercebo-me agora, é que o
Novus Ordo protestanizou os católicos e a própria Igreja.
É urgente que a reforma
da reforma se faça com grande urgência para voltar a repor o verdadeiro
remédio.
·
OPOSIÇÃO
À REFORMA DA REFORMA
Porém esta reforma da
reforma está a ter oposição, uns abertamente, outros veladamente, numa atitude
de obediência mas, na prática, desobedecendo ao criar todos os obstáculos para
que a mesma não vá para a frente.
Vou dar um exemplo
claro e evidente da oposição velada, aparentemente numa atitude de obediência,
mas na verdade uma oposição clara à vontade do Papa.
Um amigo meu que tenho
como pessoa apaixonada pela Igreja, homem de oração, ortodoxo, membro do clero,
defensor do Magistério, contudo temos divergências devido ao Summorum
Pontificium, porque a partir deste documento fez-se luz para mim a crise da
Igreja. Entretanto este meu amigo tem uma concepção dogmática do Vaticano II
que o torna como super dogma. Numa conversa escrita sobre o Summorum
Pontificium o mesmo respondeu:
«…tens que ver ainda que este documento do Magistério NÃO OBRIGA
TODOS OS BISPOS DO MUNDO A PRATICAREM INCONDICIONALMENTE A FORMA EXTRAORDINÁRIA
DA MISSA, ANTERIOR A 1970. Se não obriga, os bispos, como não estão
interessados, remetem-se ao silêncio. Com certeza! Eu fazia o mesmo».
Esta posição
escandalizou-me numa pessoa que tinha como ortodoxa. A sua resposta está com
astúcia, manha e a forma habilidosa de opor-se e obstaculizar a vontade do
magistério petrino. Quer dizer quando o Papa escreve uma encíclica, uma
exortação apostólica, ou outro documento, se não obriga, como é o caso destes
documentos, e não me interessa, eu remeto-me ao silêncio. Isto é, não faço nada
daquilo que o Papa pede. O que é isso a não ser uma oposição silenciosa?! E
depois são estas pessoas, que usam desta astúcia, que gritam a boca cheia para
termos cuidados com os tradicionalistas.
Tendo eu respondido “É manifesta a forte resistência e também
contestação, e até pública, de grande parte dos bispos a esta vontade do magistério”.
O mesmo respondeu: “A esta vontade do
Magistério?” Mas o Magistério não está a dizer que é obrigatório regressar ao passado!!!
Este “regressar ao passado” soa como um
pânico, algo como uma maldição, uma tragédia, algo mau, errado, etc. Mas o que
há de tão horrível neste passado litúrgico para causar tanta aversão? Fez-me
imediatamente lembrar uma passagem duma conferência do Cardeal Paul Poupard “Não é de admirar que um clérigo confunda o
aggionarmento conciliar com a vontade romântica exarcebada de tábua rasa,
erecta em valor teológico: antes do Concilio/ depois do Concilio.” (“O
Desafio do Ateísmo”, Livraria Apostolado de Impresa, 1986, pag.150).
Por detrás do “regressar ao passado”, conscientemente
ou não, está a ideia teológica “antes do
Concílio/depois do Concilio”. Está, também, a noção de que a Igreja, após
Vaticano II, não é a Igreja do passado. É outra. E a expressão máxima desse
facto é a Nova Missa de Paulo VI.
A Summorum Pontificium
é o espelho onde podemos constar o silêncio como práxis dos membros da Igreja.
·
NOVUS
ORDO
Estranhamente
verifica-se que a Missa de Paulo VI colide frontalmente com as próprias
instruções do Vaticano II. Alguns exemplos:
Não
deve haver nela (Santa Missa) absolutamente nenhuma inovação e, por conseguinte, nenhuma criação nova de ritos litúrgicos, sobretudo da
Missa…(Cf.Sacrosanctum Concilium, nº.21)
|
Ora
a Missa de Paulo VI é, sem dúvida, uma inovação e uma criação nova de rito
litúrgico. Por exemplo a introdução dos altares de frente para o povo e a
celebração voltada para este trata-se de uma inovação e não de um retorno a um
costume da Igreja primitiva. Esta concepção do altar para o povo faz da Missa
uma comunidade do banquete eucarístico.
Bento
XVI, com clareza no seu livro “A Minha
Vida- A Autobiografia do Papa Bento XVI”, diz:
·
«…a publicação do missal de Paulo VI,
com a proibição quase completa do missal precedente…havia transfigurado
profundamente a liturgia…».
·
«…fiquei estupefacto com a proibição do
missal antigo, porque algo semelhante jamais havia acontecido ao longo da
história da Liturgia.».
·
«…a promulgação da proibição do Missal
que se desenvolveu ao longo dos séculos desde os tempos dos sacramentais da
Igreja da Antiguidade, comportava uma ruptura na história da liturgia, cujas
consequências não podiam deixar de ser trágicas».
·
«…destruiu-se o antigo edifício e
construiu-se outro…».
Temos então um novo
edifício da Igreja que foi construído com o Novus Ordo e que, ao mesmo tempo,
serviu para destruir o antigo edifício. Parece assim surgir uma nova Fé. A proibição
do antigo missal, que foi codificado, pela bula Quo Primun Tempore, de modo perpétuo pelo Papa S.Pio V, vai
precisamente na linha da destruição do antigo edifício e na construção de um
novo edifício. Não é por acaso que no Osservatore Romano de 13/10/1967 está
afirmado «…a reforma litúrgica aproximou-se
das mesmas formas da liturgia da igreja luterana». Pudera, como não haveria
aproximar-se se teve seis pastores luteranos como conselheiros? Mas isto faz
sentido?! O altar como mesa tem influência destes protestantes.
Mons.Anibal Bugnini, o
grande mentor do actual Novus Ordo acerca desta o mesmo afirmou: «Não se trata
apenas de retoques numa obra de grande valor, mas às vezes é preciso dar
estruturas novas a ritos inteiros. Trata-se de uma restauração fundamental, eu diria quase uma mudança total e, para certos pontos, de uma verdadeira nova criação. (Doc.Cat.nº.1493 de
7/05/1967). Também pela primeira vez na história da Igreja as mulheres são
autorizadas a proclamar as leituras da Escritura. Outra inovação.
A Missa Romana que foi
concebido ao longo de séculos num plano atemporal foi transposto para o
contexto das situações concretas. Por isso, há missas conforme o livre arbítrio
de cada um, porque o novo rito é, em si, pluralista. Por isso, há missas africanas,
missas palhaço, missas dos motociclistas, dos ciclistas, etc, etc.
Confirma-se, assim,
esta intenção de demolir o edifício antigo, de fazer uma ruptura com a
Tradição, e fazer o tal edifício novo.
O novo rito parece ter
deliberadamente, intencionalmente ou não, cortado os elementos da liturgia
romana que mais se aproximavam dos ritos orientais, e se aproxima da liturgia
protestante. O mais misterioso nisto é que o rito romano, conforme o Concilio
Dogmático de Trento, tinha como objectivo excluir toos os perigos tanto para o
culto litúrgico quanto para a própria fé, então ameaçados pela revolta
protestante. Que mistério de iniquidade está por detrás da inovação do novo
rito? Quantas almas não se perderam com este novo rito? A fé dos povos é defendida
pela Ortodoxia. Com o pluralismo, a exemplo do ecumenismo do Vaticano II, o
diálogo com o mundo e com tudo e todos, trouxe perturbação na fé dos povos. A
evidência disso é a brutal diminuição da fé no mundo e, na Europa, com
dimensões trágicas.
Que fazer com a Bula
“Quo Primum”? Tábua rasa?
Perante a
autodestruição do coração da Igreja, a Santa Missa, como se explica este
silêncio face ao mesmo? Volto aqui a recordar aquele argumento de um amigo meu,
membro do clero, “…os bispos, como
não estão interessados, remetem-se
ao silêncio. Com certeza! Eu fazia
o mesmo». Não é este silêncio cumplicidade perante a destruição do
edifício da Igreja. Quantos Deus não julgará pelo seu silêncio, quando deveriam
ter falado?!
Os
ritos da Missa devem ser de tal forma, que
o sagrado seja mais expresso mais explicitamente. (Cf.Sacrosanctum
Concilium, nº.21)
|
O Novus Ordo torna o
humano mais expresso mais explicitamente, em vez do sagrado. Tanto assim que a
mesma tem a tónica mais na Ceia do que no sacrifício, razão porque o altar
apresenta-se como uma mesa. A Missa de Paulo VI comporta o problema do Vaticano
II que é a polivalência. Por isso o Missal de Paulo VI dá para todo o tipo de
missas. Missa Rock, Missa Fado, Missa Palhaço, Missa nova balada, etc, etc. O
humano é o dominador no novo rito. Na mesma linha vemos a concepção das
igrejas, após o Vaticano II, em que as mesmas parecem tudo menos igrejas. O
humano é dominador na nova construção das igrejas e como disse o Papa Bento XVI
“muitas igrejas hoje parecem teatros”
(Cardeal Joseph Ratiznger, Voici quele st notre Dieu, Plon, Paris, 2.001. Pp
288 a 294). Da mesma forma que o acto litúrgico tem por detrás uma mensagem,
uma ideia teológica, assim hoje os edifícios das igrejas idealizam esta
mundanização e humanização.
Em 2/04/1972, o Cardeal
Arcebispo Siri, numa carta dirigida aos Professores de Liturgia e Rubricas, bem como aos professores de Canto de
nossos Seminários e também aos outros Superiores e Professores, disse: «Deve-se observar que no mundo criou-se uma
onda colectiva de esvaziamento do belo. (…)Esta onda de esvaziamento também
atingiu os Seminários…julgam que os símbolos externos da Igreja na sua Liturgia
são supérfluos, inúteis e enfadonhos».
Não é isso que vemos hoje nas igrejas, quer na concepção dos edifícios,
quer no interior dos mesmos? Um exemplo actual é a
nova Basílica do Santuário de Fátima, Santíssima Trindade, materializa até à
última virgula este esvaziamento do belo divino, litúrgico, e evidencia à
saciedade o humano e o mundano na igreja. Ela parece de facto uma sala de
espectáculo, tendo um palco, como nos teatros, e ao fundo uma tela gigante
fazendo lembrar um ecrã dos cinemas. Isto é, há uma invasão, uma avalanche do
mundano, do humano na liturgia, e por conseguinte, na fé.
Paulo VI disse: «a abertura ao mundo foi uma verdadeira
invasão do pensamento mundano dentro da Igreja. Talvez fomos por demais
fracos e imprudentes» (Oss.Rom. 23/11/1973).
É o pensamento humano e
mundano que hoje vemos dentro da Igreja, na concepção dos novos edifícios como
a lamentável Basílica da Santíssima Trindade do Santuário de Fátima, bem como
outras igrejas espalhadas pelo mundo, após Vaticano II. Assim também o novo
rito da Missa tem esta invasão do humano (Ceia).
O que foi mais expresso
mais explicitamente, não foi o sagrado, foi esta invasão do pensamento do
mundo. O sagrado é luz, o pensamento do mundo é trevas. Disso deu conta Paulo
VI ao afirmar que a Igreja mergulhou num “sopro
de nuvens, tempestades e de trevas” (Oss.Rom. 18/07/1975).
Temos novamente aqui
aquele maldito silêncio que soa mais a cumplicidade do que obediência, soa mais
a covardia do que coragem, soa mais à medo do que testemunho.
Este silêncio… faz-me
lembrar o silêncio que os demónios fazem no exorcismo diante do sacerdote, como
táctica para obstruir a acção de Deus.
Quanta sujeira existe
na Igreja por causa deste silêncio?!
O
latim deve ser conservado na
liturgia, e sobretudo na Santa Missa.
(Cf.Sacrosanctum Concilium, nº.36 e 54)
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A substituição do latim pelo vernáculo na liturgia da Igreja católica foi
considerada por muitos uma medida infeliz e saudada por outros como um “aggiornamento” necessário para favorecer
a participação
do povo. Porém,
não foi uma decisão do Concílio Ecuménico Vaticano II, sendo certo que a sua
matriz não é a clareza, mas o pluralismo. Isto é, várias interpretações. Mais
abaixo darei um exemplo.
Cinco anos
depois do Concílio, não havia mais sinal dele nos livros litúrgicos católicos.
Como foi isso possível e porquê esta obsessão em eliminar o latim da vida da
Igreja. O que há, na verdade, por detrás deste acto? Lembro novamente que há
sempre uma mensagem ou doutrina teológica para cada acto litúrgico e pode-se
dizer que o latim tinha também essa mensagem, essa ideia e essa doutrina.
A eliminação
total da língua dos antigos romanos aconteceu quase à surdina e em alguns casos contra a vontade do Papa Paulo
VI. Que forças obscuras estão por detrás deste desaparecimento silencioso do
latim? Foi a invasão do pensamento mundano dentro da Igreja, de que se
lamentava Paulo VI, que levou a tal tragédia?
A tragédia está
precisamente nos textos, intencionalmente ou não, escritos dessa forma que
resulta na ambiguidade, que possibilidade várias interpretações dos documentos
conciliares. Pois nesta disposição do Concilio sobre o latim temos “salvo direito particular”. Esta foi a
brecha que permitiu a implantação do vernáculo na liturgia universal, anulando,
praticamente, o disposto no mesmo artigo. Isto é uma prática recorrente nos
documentos conciliares em que se se dispõe uma coisa, mas depois deixa-se uma
brecha para anular o disposto.
O "salvo",
inserido no parágrafo 1 do artigo 36 do Sacrossantum
Consilium, foi como um
pequeno furo na parede de uma
represa, foi o suficiente para que a língua latina fosse posterior e totalmente
eliminada do culto litúrgico e substituída pelo vernáculo. Assim, a excepção
tornou-se regra, como em outras excepções estabelecidas pelo
Vaticano II. Um exemplo duma excepção como regra são os ministros
extraordinários da comunhão. E a culpa é de quem? Dos leigos? Não! É dos padres
e dos bispos.
Ao consultar a Tradição da Igreja e o
seu Magistério temos vários avisos vermelhos que foram pura e simplesmente
ignorados:
1. Pio
XII afirma que o latim “é um nobre e
claro sinal de unidade e um antídoto eficaz contra a corrupção da pura doutrina”
(Encíclica Mediator Dei)
2. O
papa João XXIII promulga a Constituição apostólica Veterum sapientiae que afirma
que a Igreja, pela sua natureza, precisa
de uma língua “universal, imutável e não vulgar”
3. S. Francisco de Sales, final do
século XVI, contra os ensinamentos dos reformadores protestantes que, ainda
dentro da Igreja Católica, defendiam a utilização do vernáculo na liturgia:
"Examinemos seriamente porque pretendem ter o Serviço divino em língua
vulgar. Seria para ensinar a doutrina?" (...) "Para isto há a
pregação, na qual a palavra de Deus, além de lida, é explicada pelo
sacerdote... De modo algum nós devemos simplificar nossos ofícios sagrados em
linguajar particular, pois, como nossa Igreja é universal no tempo e no espaço,
ela deve também celebrar os ofícios públicos em língua também universal no
tempo e no espaço." (Controverses, 2ème partie, discours
25).
4. Do Papa Alexandre VII, em 1661,
contra o Jansenismo, que substituíra o latim pelo francês na liturgia: "Alguns
filhos da perdição, ansiosos por novidades para a perda das almas, chegaram a
este cúmulo de audácia, de traduzir o Missal romano para o francês,
originalmente escrito em latim, seguindo o costume aprovado pela Igreja há
tantos séculos... Assim fazendo, eles tentaram, com temerário esforço, degradar
os mais sagrados ritos, rebaixando a majestade que a língua latina os reveste,
e expondo de forma vulgar a dignidade dos mistérios divinos" (Yves
Daoudal, La liturgie enseignement sacré - Itinéraires, n 263, Mai 82)
5. De Joseph de Maistre (embora
filósofo, maçon, martinista e favorável às idéias gnósticas de Jacob Böehme e
ao milenarismo), em 1819: "Não convém a uma religião
imutável utilizar qualquer língua mutável. O movimento natural das coisas
atinge constantemente as línguas vivas... Se a Igreja falasse na nossa língua,
alguém com atrevido espírito poderia tornar o mais sagrado da liturgia, em
ridículo ou indecente. Sob os mais imagináveis aspectos, a língua religiosa
deve ser sempre colocada acima do domínio do homem" (Du Pape,
livre l ch. XX, apud Yves Daoudal).
6. Do Papa João XXIII, na sua constituição
Veterum Sapientiae, de 22 de Fevereiro de1962:
4.1 - "...Não
sem a disposição da Divina Providência, aconteceu que a língua (latina), que
por muitos séculos unira tantos povos sob o Império Romano, se tornasse a
própria língua da Sé Apostólica e, preservada para a posteridade, reuniu num
estreito vínculo, uns com os outros, os povos cristãos da Europa"
4.2 - "De facto, pela sua própria natureza, a
língua latina está apta a promover junto a qualquer povo toda a forma de
cultura; pois que ela não suscita invejas, apresenta-se imparcial a todos os
povos, não se constitui em privilégio de ninguém, em fim é totalmente aceita e
amiga."
4.3 -"Não podemos esquecer que a língua latina
tem nobreza de estrutura lexica, visto que oferece a possibilidade de « um
estilo conciso, rico, armonioso, cheio de majestade e de dignidade» ( Pio XI, Epist. Ap. Officiorum
omnium, 01/08/1922: A.A .S. 14), que de modo especial consegue clareza e
gravidade".
4.4 - "Por estes motivos a Santa Sé tem
cuidadosamente zelado na conservação e progresso da língua latina e a considera
digna de ser utilizada como «magnífica vestimenta da doutrina celeste e das
santíssimas leis» (Pio XI,
Motu Proprio Litterarum Latinarum, 20/10/1924), no exercício do seu
magistério, e quer ainda que seus ministros a utilizem".
4.5 - «O pleno conhecimento e uso dessa língua, tão
ligada à vida da Igreja, não interessa tanto à cultura e às letras quanto à
Religião» (Pio XI,
Epist. Ap. Officiorum omnium, 01/08/1922), "como disse nosso
Predecessor...; o qual, ocupando-se cientificamente do assunto, reuniu três
dons desta língua, de modo admirável conforme a própria natureza da Igreja: «De
facto, a Igreja, como mantêm unidos na sua amplitude todos os povos e durará
até a consumação dos séculos... requer, pela sua natureza, uma língua
universal, imutável, não vulgar» (Ibidem).
4.6- "É necessário que a Igreja utilize uma
língua não só universal, mas também imutável. Se, de facto, a verdade da Igreja
Católica fosse confiada a algumas ou a muitas das línguas modernas, sujeitas a
uma contínua mudança, as quais nenhuma tem maior autoridade e prestígio sobre
as outras, resultaria sem dúvida que, devido à sua variedade, não ficaria
manifesto para muitos com suficiente precisão e clareza o sentido de tais
verdades, nem, por outro lado, se disporia de alguma língua comum e estável,
para confrontar o sentido das outras".
4.7- "... Enfim, visto que a Igreja Católica, por
ter sido fundada por Cristo Nosso Senhor, excede sem medida em dignidade sobre
todas as sociedades humanas, é sumamente conveniente que ela use uma língua não
popular, mas rica de majestade e de nobreza".
4.8 - "Além disso, a língua latina, que
«justamente podemos chamar de católica» (ibidem), pois que é própria da Sede Apostólica,
mãe e mestra de todas as Igrejas, e consagrada pelo uso perene, deve ser
mantida como «tesouro de incomparável valor» (Pio XII, Alloc. Magis quam,
23/11/1951) e como porta pela qual se abre a todos o acesso às mesmas
verdades cristãs, vindas dos tempos antigos, para interpretar o testemunho da
doutrina da Igreja (Leão XIII, Epist. Encicl. Depuis le jour, 08/09/1899) e,
finalmente, como vínculo mais que idóneo, mediante o qual a época actual da
Igreja se mantem unida com os tempos passados e com os tempos futuros de modo
admirável».
4.9 - "Em nossos dias, o uso do latim é objecto
de controvérsia em muitos lugares e, consequentemente, muitos perguntam qual é
o pensamento da Sé apostólica sobre este ponto. Por isso nós decidimos tomar
medidas oportunas, enunciadas neste solene documento, para que o uso antigo e
ininterrupto do latim seja plenamente mantido e restabelecido onde ele quase
caiu em desuso."
Meu Deus, depois disto
tudo, pergunto como foi possível demolir tal tesouro completamente da Igreja
Universal?! Volta aqui a causa da doença. Ela está identificada só que há duas
atitudes: os que claramente o identificam e os que cismaticamente o ignoram.
Estes têm medo de pôr em causa a Autoridade do Concilio. Sim, uma doença tem
autoridade, por isso temos de ter respeito com ela, razão porque tomamos
vacinas. Neste caso, insiste-se em ignorar a vacina.
Também aqui quanto
silêncio de muitos, primeiramente do episcopado e depois dos padres?
O
canto gregoriano tem o primeiro lugar na liturgia.
(Cf.Sacrosanctum Concilium, nº.116)
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O
Concílio Vaticano II não se calou sobre o Gregoriano, no seu primeiro
documento, de 1963, a Constituição Conciliar Sacrosanctum
Concilium sobre a Sagrada
Liturgia, que versava sobre a reforma do Rito Romano pode-se encontrar um
capítulo inteiro dedicado à Música Sacra (capítulo VI) do qual destaco:
112. A
tradição musical da Igreja é um tesouro de inestimável valor, que excede todas
as outras expressões de arte…
114.
Guarde-se e desenvolva-se com diligência o património da música sacra.
116. A
Igreja reconhece como canto próprio da liturgia romana o canto gregoriano; terá
este, por isso, na acção litúrgica, em igualdade de circunstâncias, o primeiro
lugar.
Os que defendem que há ambiguidade no Concilio
Vaticano II, e não são pessoas menores, mas altas figuras do episcopado,
voltamos aqui a encontrar nova brecha:
117. Procure terminar-se a edição
típica dos livros de canto gregoriano; prepare-se uma edição mais crítica dos
livros já editados depois da reforma de S. Pio X.
Convirá preparar uma edição com
melodias mais simples para uso das igrejas menores.
Podem utilizar-se no culto divino outros instrumentos,
segundo o parecer e com o consentimento da autoridade territorial competente,
conforme o estabelecido nos art. 22 § 2, 37 e 401,
contanto que esses instrumentos estejam adaptados ou sejam adaptáveis ao uso
sacro, não desdigam da dignidade do templo e favoreçam realmente a edificação
dos fiéis.
Verifica-se
assim que o que tinha apenas a condição de extraordinário passou a ordinário, a
exemplo do ministro extraordinário da comunhão.
É
evidente que estas brechas potenciaram os abusos e que ainda ocorrem. Os Papas
pronunciaram-se sobre os variados abusos, Paulo VI sobre o abandono do latim,
João Paulo II sobre a irreverência com o Santíssimo Sacramento e Bento XVI
sobre o abandono do Mistério na Liturgia. O Novus Ordo, sem sombra de dúvidas,
potencia grandemente para este abandono do Mistério da Liturgia.
Em
2001, em duas ocasiões o Beato Papa falou novamente sobre Música Sacra.
Primeiramente num discurso por ocasião do 90º aniversário do Pontifício
Instituto de Música Sacra:
O canto Gregoriano, a polifonia sacra e o órgão. Apenas nesse
caminho a música litúrgica irá dignamente realizar sua função durante a
celebração dos sacramentos e, especialmente, da Santa Missa.
Depois
por ocasião do congresso internacional de Música Sacra, o Beato Papa disse:
Música
Sacra é uma parte integral da liturgia. O canto Gregoriano, reconhecido pela
Igreja como sendo “especialmente adequado à liturgia Romana”, é uma herança
espiritual única e universal que foi legada a nós como a mais clara expressão
de música sacra a serviço da palavra de Deus.
Em 2003, no aniversário de 100 anos do Motu Proprio Tra
le sollecitudini do Santo Papa Pio X, o Beato João Paulo II publicou um
documento muito esclarecedor, onde consta:
2(...) Portanto, foi constante a
atenção dos meus Predecessores a este delicado sector, a propósito do qual
foram evocados os princípios fundamentais que devem animar a produção da música
sacra, especialmente destinada à Liturgia. Além do Papa São Pio X, devem ser
recordados, entre outros, os Papas Bento XIV, com a Encíclica Annus qui (19 de
Fevereiro de 1749); Pio XII, com as Encíclicas Mediator Dei (20 de Dezembro de
1947) e Musicae sacrae disciplina (25 de Dezembro de 1955); e, finalmente,
Paulo VI, com os luminosos pronunciamentos que disseminou em múltiplas oportunidades.
Entre
as expressões musicais que mais correspondem à qualidade requerida pela noção
de música sacra, particularmente a litúrgica, o canto gregoriano ocupa um lugar
particular. O Concílio Vaticano II reconhece-o como "canto próprio da
liturgia romana" à qual é preciso reservar, na igualdade das condições, o
primeiro lugar nas acções litúrgicas celebradas com canto em língua latina. São
Pio X ressaltava que a Igreja "o herdou dos antigos Padres",
"guardando-o ciosamente durante os séculos nos seus códigos
litúrgicos" e ainda hoje o "propõe aos fiéis" como seu,
considerando-o "como supremo modelo de música sacra". O canto
gregoriano, portanto, continua a ser também hoje, um elemento de unidade na
liturgia romana.
O Vaticano II — que re-confirmou plenamente a primazia
do gregoriano, da polifonia e do órgão, contudo o que se viu e se vê é uma
devastadora degeneração na música da Igreja, a pretexto das brechas existentes
nos documentos conciliares.
A partir dos anos 60 do século passado o
desaparecimento do canto gregoriano foi quase total. De facto, o golpe serviu-se
das brechas dos documentos conciliares para distorcer a aplicação da reforma
litúrgica, tendo como autores parte da elite da Igreja. Um mistério que um dia
Deus nos revelará. Este golpe foi magistralmente aplicado, pois a mudança veio
com rapidez fulminante, praticamente de um dia para o outro e, em consequência
o canto gregoriano foi arrastado para o exílio.
Que mistério de
iniquidade é este que tem a participação ou cumplicidade dos membros da Igreja,
nomeadamente de algum episcopado?
Perante esta enorme e profunda crise da
Igreja, e ao mesmo tempo assistirmos ao ensurdecedor silêncio daqueles que
deveriam falar, lembro da profecia de S.Nilo, Ermita do Século V, amigo e discípulo de
São João Crisóstomo, Superior de um Mosteiro de Ancira, na Galácia, morreu no
ano 430. A sua Profecia foi inserida na importante obra de Hagiografia:
“Bibliotheca Sanctorum”, vol. IX, p. 1008:
E os pastores cristãos, bispos e sacerdotes, serão
homens frívolos, completamente incapazes de distinguir o caminho à direita, ou
à esquerda.
As Igrejas serão privadas de pastores
piedosos e tementes a Deus, e infelizes dos cristãos que restarem sobre a terra.
Pois é, infelizes dos cristãos leigos
que não são alertados pelos seus pastores porque eles fazem silêncio sobre o
que se está a passar. Como escreve o historiador Ricardo
De La Civerva, “O que me perturba quando considero o mundo católico é que
dentro do catolicismo parece às vezes que pode predominar um pensamento não
católico, e pode suceder que este
pensamento não católico dentro do catolicismo se converta, amanhã, como o pensamento
mais forte. Porém nunca representará o pensamento da Igreja.
É necessário que subsista uma pequena grei, por muito pequena que seja".
Anos depois, Guitton
comentava: "Paulo VI tinha razão. E hoje nos damos conta. Estamos
vivendo uma crise sem precedentes. A Igreja, e mais, a história do mundo, nunca
conheceu crise semelhante. Podemos dizer, que, pela primeira vez na sua
história, a humanidade no seu conjunto é contra a teologia". (La hoz y
la cruz, Ed. Fénix 1996, pg.84).
Aquelas pessoas que responderam que a Missa não era para Deus, mas para
as pessoas, não se verifica aqui precisamente este pensamento não
católico? Lembro que são católicos de missa diária, e de apostolado dedicado.
É óbvio que o Novus Ordo enfatiza o sentido de “ceia” e “memória”, em
vez da renovação do Sacrifício da Cruz. Esta deve ser a razão porque as pessoas
pensam que a Missa é para elas.
Pela vontade do Papa João XXIII, o Vaticano II quis ser um Concílio
Ecumênico mas não no sentido tradicional de "universalidade" ou de
"catolicidade", mas na acepção moderna de favorecer a unidade dos
cristãos.
Essa intenção de fazer do Concílio um instrumento de ecumenismo,
contradizendo o magistério anterior, abriu as portas da Santa Sé sendo esta
ocupada pelos neolitúrgicos progressistas.
Deixemos de lado o que nos separa,
guardemos o que nos une; este bem conhecido programa de João XXIII foi o princípio
inspirador da nova liturgia. Por isso, o convite feito aos seis pastores
protestantes e o Novus Ordo que se aproxima largamente da concepção protestante
da eucaristia (Ceia).
Ora, uma reforma litúrgica inspirada em
"motivos ecuménicos" é inconcebível, porque contradiz o
princípio imutável da liturgia católica: cabe à regra de fé regular a oração.
Uma tal reforma é, ao contrário, pôr em
prática a "caridade sem fé" que São Pio X condenou no
modernismo. Não é de admirar que a "reforma" tenha
sacrificado a claridade e a exactidão doutrinal em troca de ambiguidade e
compromisso.
Todavia, imbuídos do princípio anunciado
por João XXIII, os Padres conciliares irão dizer, no primeiro documento que
aprovaram, ou seja, na Constituição "Sacrosanctum Concilium" sobre a
reforma da "Sagrada Liturgia", de 4 de Dezembro de 1963, que o
Concílio Vaticano II, desde o seu início, propunha-se a “favorecer tudo o
que possa contribuir para a união dos que crêem em Cristo"...
e para tanto julgou "ser seu dever cuidar de modo especial da reforma
e do incremento da Liturgia"(pg 259.)., estando a Reforma do
Ordinário da Missa inserida nessa reforma.
E esse documento foi redigido de uma forma
tão ambígua que tornou possível a remoção "das pedras que pudessem
constituir mesmo sombra de um risco de tropeço ou de desagrado para nossos
irmãos separados", como declarou Monsenhor Annibal Bugnini, artífice
da Nova Missa, no L’ Observatore Romano de 19 de Maio de 1965, pedras essas que
existiam (e que continuam a existir) na liturgia da Igreja Católica,
particularmente no rito romano tradicional, restaurado e canonizado por São Pio
V para deter e combater as heresias protestantes. Com a aprovação da
Constituição sobre a Sagrada Liturgia foi iniciada a protestantização da
Missa católica.
Os Cardeais Ottaviani e Bacci escreveram
ao Papa Paulo VI em 25 de Setembro de 1969 uma carta em que alertavam que o
Novus Ordo representava tanto no seu todo como nos detalhes, um surpreendente
afastamento da teologia católica da Santa Missa. Todos os alertas, já acima
expostos, de nada serviu para parar a reforma, e apesar de 50 anos de provas
evidentes de hemorragias graves, é perturbador como o amor à doença é mais
forte que o desejo da cura (vacina).
Lutero e seus seguidores sempre afirmaram
que a chave para destruir a Igreja era a destruição da Santa Missa.
Hoje tomei consciência de que a demolição
do Rito Romano, conhecido também como gregoriano ou de S.Pio V, é a causa da
grave crise que a Igreja atravessa. Também tenho consciência de que ele é a
vacina para a construção de tudo o que há 50 anos foi destruído. Mais, estou
convencido de que o actual rito não agrada a Deus e a razão são os frutos após
50 anos após o Vaticano II.
Sendo fiel à Igreja Católica, apostólica e
romana e com amor filial ao Papa, como filho desta Santa Igreja não posso
deixar de alertar e clamar pela restauração da Santa Missa, da Liturgia.
Ludgero Bernardes